Esquerda - Conteúdo.

Palestra de Vagner Diniz, Gerente Geral do W3C no Brasil.

Encontro Internacional de Tecnologia e Inovação para Pessoas com Deficiência.
Mesa Redonda: Acessibilidade Web e Governo Eletrônico 09/12/2009.

SR. VAGNER DINIZ:

Obrigado Kobashi, boa tarde a todos vocês, agradeço a organização pelo convite para participar dessa conversa. Na verdade, é uma conversa sobre acessibilidade digital. É um assunto bastante novo, né? Porque a internet é um assunto novo na nossa vida. É... estamos falando, na melhor das hipóteses, de 20 anos que existe a internet como conhecemos fundada ou criada pelo Tim Berners-Lee, que é fundador também da organização da qual eu participo. Então, é um assunto muito novo, a gente não teve tempo ainda de digerir no nosso cotidiano o impacto que a internet nos causa. E quando nós falamos de acessibilidade na Web, esse assunto é mais novo ainda. Estamos todos tateando. Estamos todos aprendendo. Por isso que eu agradeço o convite e a oportunidade de poder conversar com a mesa e com vocês e também ter a oportunidade de aprender, já que esse assunto é, sem dúvida, é muito novo para nós.

O próximo slide, por favor!
Eu queria tentar colocar a discussão desse assunto de acessibilidade na Web num patamar mais geral de Web universal e mais amplo ainda do que Web universal, de design universal.

Design Universal.

Para o W3C, que é um consórcio preocupado com o desenvolvimento de padrões para a Web é importante destacar que a nossa compreensão de Web é uma compreensão inserida numa ideia de design universal, onde você precisa sempre ter em mente de que os desenhos, os projetos que são feitos, eles têm que ser feitos de uma maneira ampla, global, que pense todas as pessoas, que pense todas as coisas, que pense na particularidade também.

Isso quer dizer que quando nós estamos falando de um design universal, um design para todos, seja ele Web ou não, e eu acho que quando nós pensamos nisso, o fator Web, ele é importante porque ele traz um impacto mais intenso da globalização, daquilo que nós podemos chamar de global, daquilo que nós podemos chamar de comunidades. A internet facilita isso demais. Nós colocamos em diversos, em diversas dimensões nós colocamos muito mais gente, muito mais cultura, muito mais variedades de pessoas, diversidade de pessoas. Nós colocamos muito mais grupos que antes da internet não era possível com tanta facilidade.

Então, no design universal tem que se pensar muito essa diversidade que nós possuímos no planeta. A diversidade da língua, a diversidade de habilidade que as pessoas têm com as diversas técnicas ou tecnologias existentes. Nós temos que nos preocupar com a localização geográfica, com as diferentes culturas, com aquilo que está disponível para as pessoas, com aquilo que está à mão. Isso vale para a arquitetura, isso vale para veículos, isso vale para qualquer dimensão da nossa vida. E, muito particularmente, para a Web. Nós temos que considerar que é uma Web, ela tem que atingir todas as pessoas. Ela tem que atingir em qualquer lugar.

A Web Universal.

A web tem essa capacidade de ser universal, a Web está em qualquer lugar, de qualquer lugar do mundo você pode ter acesso às páginas da internet. Mais do que isso, a Web tem que estar em todas as coisas. Isso vale também para... outras dimensões da nossa vida que não só a Web, mas, na Web hoje você pode pensar em Web no dispositivo celular. A gente carrega esse negócio aqui, esse aparelho celular, hoje ele não é só para voz, você manda SMS, você entra até na internet, é chato navegar na internet no celular, mas, é possível. E você tem que pensar nisso. Cada vez mais as pessoas estão em movimento e elas têm que ter a capacidade de acessar a informação e, talvez, acessar a internet de acordo com o dispositivo que ela está utilizando.

E daqui a pouco é celular no carro, é a internet no carro, é a internet no relógio, é a internet na geladeira. Isso, assim, vai ser muito rápido, não vai demorar todas essas coisas aparecerem na nossa vida e nós estarmos, de alguma forma, totalmente conectados para o bem e para o mal. Então, pensar na acessibilidade na Web ou acessibilidade digital é pensar numa Web que seja universal. Isso é algo essencial.

Além de ser universal, global, ela tem que respeitar também as particularidades, ela tem que respeitar a privacidade, ela tem que respeitar a confidencialidade, ela precisa ter uma Web com segurança, não adianta ela ser inclusiva do ponto de vista global, trazer todo mundo para a conexão e a gente acabar perdendo é... o que é importante em termos de confidencialidade e privacidade.

O W3C e Acessibilidade na Web.

Então, esses, para nós, W3C, são eixos temáticos essenciais para se pensar uma Web que seja universal. E a acessibilidade na Web é uma dimensão extremamente importante da Web universal. É para isso que existe o W3C. O W3C é um consórcio internacional com mais de 400 participantes e que, no Brasil, é um programa do comitê gestor da internet e que vem trabalhando no sentido de construir padrões, normas, regulação para que efetivamente nós tenhamos uma Web dentro desse conceito universal.

Acessibilidade na Web para nós compreende o conteúdo que está na Web, compreende também aqueles que desenvolvem páginas da Web e os usuários da Web, aqueles que entram na Web para navegar. São essas três dimensões que são importantes de serem consideradas quando se fala em acessibilidade na Web.

Conteúdo.

Quando falamos de conteúdo na Web é preciso que aquelas aplicações que são geradas, aqueles sítios que são desenvolvidos na Web, eles precisam, precisam se preocupar com as necessidades das pessoas que vão navegar nele e, de tal forma que as pessoas possam perceber o que existe na página da Web possam entender o que está escrito, o que está exposto lá, independente se ela pode ler ou não ler o que está escrito, se ela enxerga ou se não enxerga, se ela ouve ou não ouve o que está disponível, ela precisa entender o que foi colocado. Ela precisa ter a facilidade de navegar e interagir com aquele conteúdo. Portanto, o conteúdo é uma dimensão importante da acessibilidade na Web, porque ele precisa ser preparado com essas quatro características: Percepção, entendimento, navegação e interação. Essa é uma dimensão da acessibilidade na Web para o W3C.

Usuários.

A outra dimensão da acessibilidade na Web para o W3C é aquela que envolve os usuários. Os usuários precisam ter ferramentas para navegar na Web. Ferramentas adequadas às suas necessidades. Os navegadores, por exemplo, eles precisam ser capazes de entender aquele conteúdo para todos os tipos que navegam nas páginas. Tantos os navegadores que nós chamamos de browsers, muitas vezes, de tal forma que as pessoas que usam esses navegadores possam ter acesso aquele conteúdo rico de... seja qual for a sua necessidade. Mais do que isso, nos navegadores precisam ser capazes de interagir com aquilo que nós chamamos de tecnologias assistivas, eles têm que ser interoperacionais com essas tecnologias de tal forma que essas pessoas que precisam delas possam conseguir usar os navegadores.

Desenvolvedores Web.

A terceira dimensão importante para nós, no W3C com relação a acessibilidade na Web são o desenvolvedor

Os desenvolvedores precisam ter ferramentas de desenvolvimento e novas tecnologias que permitam que eles produzam páginas na Web que sejam acessíveis. Nem sempre as ferramentas de hoje produzem páginas com essas qualidades. Muitos navegadores que geram páginas na internet, muitas ferramentas de desenvolvimento de páginas na internet de uma forma automática, geram páginas rápidas, porém, não acessíveis.

Isso é um problema sério porque, às vezes, uma empresa que contrata para desenvolver as suas páginas, ela quer aquilo com muita rapidez e aí os desenvolvedores usam ferramentas que desenvolvem páginas com rapidez. Resultado final: Páginas feitas com muita rapidez, às vezes páginas bonitas, porém nada acessíveis. Portanto, é fundamental que a acessibilidade na Web tenha a compreensão de que os desenvolvedores são partes importantes desse tripé: Conteúdo, usuários e desenvolvedores.

E é isso que o W3C hoje se preocupa, né? Produzir tecnologias, ferramentas e linguagens que atendam essas três dimensões da acessibilidade na Web.

Governos e políticas de governo.

E para ir encerrando a minha apresentação, o que é que eu entendo como W3C que é importante como uma ação para caminhar para um consenso global sobre a acessibilidade?

Por um lado, governos. Os governos precisam urgentemente estabelecer metas muito bem definidas, metas claras em termos de o que fazer e quando fazer, de tal forma que eles definam os seus marcos regulatórios de acessibilidade na Web. Os governos precisam urgentemente fazer isso e determinar em que prazos órgãos públicos precisam atender os seus marcos regulatórios de acessibilidade na Web. Seja para utilizar os padrões abertos internacionalmente aceitos em termos de acessibilidade e o padrão do W3C é um dos mais aceitos internacionalmente, aquele conhecido como WCAG. Hoje nós estamos na versão 2.0 desse padrão. Ou seja, criar um marco regulatório que determine que os órgãos públicos tenham nas suas páginas os padrões abertos sendo utilizados.

Exigir a aderência a esses padrões também na compra de serviços baseados na Web. O governo compra muito. O governo compra muito serviço baseado na Web. Muita aplicação ele pede para ser desenvolvida por agências digitais, pede para ser desenvolvidas páginas na Web por terceiros. Ele tem um poder de compra, ele pode colocar no seu edital que só aceita aquele que desenvolver o serviço baseado na Web dentro de padrões de acessibilidade internacionalmente aceitos. Ele tem o poder de compra para isso.

E ainda dentro do governo, ele pode também exigir que exista marco regulatório no nível local de governo e o Governo Federal já começou a fazer alguma coisa nessa direção.

O Governo Estadual de São Paulo, por exemplo, começou a fazer alguma coisa nessa direção, mas os governos locais estão muito distantes disso. Então, é preciso ter pressão da sociedade para que os governos locais tomem atitude. E mais, o próprio Governo Federal e o governo Estadual interagem muito com as outras esferas de governo, principalmente o governo local. Há repasses de fundo, por exemplo, de Governo Federal para governo local. Fundo de transferência em diversas instâncias.

O governo Estadual também repassa muito dinheiro para o governo municipal e, muitas vezes, esse repasse é baseado em prestação de contas que é feita via Web. Ora, por que não exigir que nesse processo de troca de informação entre as instâncias de governo, essa troca de informação seja feita sempre dentro de padrões de acessibilidade? E que o governo exija: Eu só repasso o recurso se... se você também atender as questões de acessibilidade na sua comunicação de internet. O Governo Federal, principalmente, tem poder de fogo para poder fazer essa exigência.

Setor Privado.

Muito bem. Ainda dentro de uma proposta para consenso global, o setor privado. O setor privado também pode ter a sua ação. Banco é desanimador, né? Banco em termos de acessibilidade é um sofrimento. O vídeo aqui da, esse vídeo excelente da acesso digital e que o MAQ é uma das estrelas desse vídeo, deu um exemplo de um banco, não por acaso, estatal, que era sofrível. Não sei se já melhoraram agora. Mas, não atendia em nada a questão de acessibilidade. O setor privado, ele tem muito o que fazer do ponto de vista de... de melhoria das suas ações com vistas a ser mais inclusivo e aderente aos padrões internacionais. E o que é que o setor privado pode fazer mais além de aderir? É possível que associações do setor privado como, por exemplo, uma FEBRABAN, uma associação de comércio e outras associações que tenham uma preocupação maior com relação à responsabilidade social criem rankings que mostrem o grau de aderência dos seus filiados em termos de acessibilidade na Web. De tal forma que poderia mostrar os melhores posicionados nesse ranking de acessibilidade como uma forma de estimular aqueles que não estão bem posicionados a perseguir uma melhor posição num próximo ranking de responsabilidade social das empresas no que tange à acessibilidade na Web. O setor privado pode contribuir muito nessa direção. Ele tem muito que fazer e pode fazer e, mais do que isso, tem dinheiro para isso.

Então, o W3C tem essas propostas em direção ao consenso global para acessibilidade na Web.

W3C, WAI e WCAG.

Nós temos muitas coisas sendo desenvolvidas. Nossa iniciativa de acessibilidade na Web chamada WAI, WCAG... fazemos muitas coisas, suporte, acessibilidade, desenvolvemos regras para implementar a acessibilidade, metodologias de avaliação de acessibilidade da Web, capacitação, treinamento nos novos padrões para quem vai treinar outros. Apoio à pesquisa e desenvolvimento nessa direção. Se vocês quiserem conversar com o W3C Brasil. É um prazer para nós podermos conversar mais sobre esse assunto, principalmente no que diz respeito às nossas propostas em direção ao consenso global. Essa atividade que nós desenvolvemos uma atividade que é desenvolvida no mundo todo porque nós temos essa preocupação de uma Web universal. Portanto, o capítulo acessibilidade na Web é um capítulo fundamental no conceito de Web universal. Muito obrigado.
[palmas].


Outras Palestras dessa Mesa:

Disponibilizado em: 21/01/2010.